Em 1982 o rock cristão já não era mais novidade nos Estados Unidos. A saga iniciada pela pioneira REZ Band e consagrada com o Petra trouxe após si inúmeros jovens, em sua maioria resgatados dos engodos mundanos da época, como o movimento hippie, o satanismo, sexo liberal, uso indiscriminado de drogas, dentre outras pragas espirituais e sociais. Aos poucos começou a se desenhar um estilo de música com inspiração no demonizado rock n’ roll, mas com elementos fortemente baseados na fé cristã, e visando não só o público mundano, mas também os cristãos.
Rotulado pelas rádios e produtoras de Contemporary Christian Music (CCM), o estilo experimenta uma ótima fase com cantores como Jeremy Camp e Casting Crowns. No entanto teve como um dos principais expoentes a banda White Heart, criada em ’82 por músicos remanescentes do Bill Gaither’s Group, conhecido cantor e compositor cristão (‘nunca ouvi falar’... dirão alguns. Vai dizer que nunca escutou ‘Porque Ele vive’?). A primeira formação contou com Mark Gersmehl nos teclados e vocal, Billy Smiley nas guitarras (rhytm), Steve Green (vocal), Gary Lunn (contrabaixo), Dann (guitarra) e David Huff (bateria e percurssão).
Apenas os dois primeiros integrantes acompanharam e fizeram a história do White Heart. Esse line-up gravou o primeiro dos 13 álbums da banda, o self-titled White Heart. O disco já demonstra uma qualidade musical que até hoje é difícil encontrar, aliada à versatilidade do estilo, que transita entre o rock n’ roll, black music e hard rock, com batidas eletrônicas e combinações harmônicas como poucas escutei na minha longa estrada. Os arranjos vocais derrubam qualquer argumento no sentido de ligar vocal de rock à gritaria. As letras falam explícita e abertamente de Deus, da vida cristã, abnegação e da volta do Senhor Jesus, sem disfarces nem tergiversações. De cara, o White Heart já mostra a que veio: disseminar a palavra do evangelho entre cristãos e não-cristãos através de músicas bem trabalhadas e com produção profissional. Sugestões: ‘Hold On’, He’s Returning’ e ‘Carry On’. A canção ‘Everyday’ merece destaque especial, já que conta com a cantora Sandi Patty fazendo um dueto belíssimo com Steve Green.
O segundo disco da banda, intitulado Vital Signs (1984), já não conta com a voz doce de Steve Green. Segundo o próprio grupo, Steve decidiu que o rock não era seu estilo. O cargo de vocalista ficou vago até a entrada de Scott Douglas. O álbum segue a mesma linha do primeiro, com uma notável evolução na qualidade da produção e gravação. Os sintetizadores de Gersmehl estão mais nítidos, Gary Lunn volta a ‘detonar’ nos slaps e a dupla Smiley – Duff se mostra afiada na sincronização das guitarras. Scott Douglas substitui Steve Green tão à altura que ninguém percebe a diferença entre as vozes, praticamente iguais. O hit ‘Sing unto the Lamb’ é perfeito para uma first track, com vozes em coro no refrão, ritmo empolgante, bem ao estilo pop rock/praise. A balada ‘Walkin in the Light’ traz à tona, mais uma vez, o estilo ‘quarteto de vozes’ norte-americano unido às batidas ritmadas e ao estalido do contrabaixo. A belíssima canção ‘Quiet Love’ leva qualquer ouvinte, até o mais desatento, a uma profunda reflexão ao som do violão e uma discreta orquestra ao fundo. O virtuosismo do então incipiente grupo é digno de ovações. A última faixa (We are His Hands) traz um all-star choir, inclusive com Steve Green emprestando sua voz mais uma vez ao grupo. Dann Huff sai do grupo.
Um ano depois, após a gravação do álbum Hotline (1985), o White Heart sofre um triste desfalque: o vocalista Scott Douglas é preso, condenado a 15 anos de prisão por crimes sexuais. David Huff se une ao irmão Dann e os dois formam a banda Giant, de curta duração. Gordon Kennedy assume [satisfatoriamente, para os bons ouvintes] as seis cordas ainda para as gravações do Hotline e Smiley junta-se a Gersmehl nos teclados em alguns momentos. No mais, como não tive a oportunidade de escutar o disco, não posso opinar sobre seu conteúdo... fica para a próxima ;).
To be continued...
terça-feira, 7 de julho de 2009
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