Nada se sabe ainda do pequeno ser. Nada se conhece ainda da forma embrionária desta criança. Contudo, pelas vias do amor chegam ao coração dos pais as boas novas da vida. Brotam sorrisos de alegria e esperança. E a face iluminada dos pais nos serve de janela para o mundo aquoso e quente onde a brota a vida-bênção.
Não há em nós entendimento que seja capaz de captar o maravilhoso início da vida. Nada em nós que possa compreender o espantoso vicejar da vida.
Por isso, olhar para uma criança é contemplar uma dádiva. E aceitá-la sem necessidade de compreendê-la.
Olhar para uma criança é ver um elo. Não digo um elo de corrente. Digo, sim, um elo umbilical. O cordão que se estende, primeiro, de ventre a ventre, da mãe para a criança e vice e versa. Nutrientes, sangue, vitaminas e tudo o que a vida precisa escorre pelo cordão. Um fluxo constante de ida e volta.
Estende-se o cordão, também, desde as profundezas mais remotas do Universo à criança que da mesma substância é formada. Elo que a liga ao insondável cosmo e ao mesmo tempo a todas as gerações da humanidade. Cordão umbilical que tem sua outra ponta nas mãos do Criador, o autor da vida.
Estende-se o cordão, ainda, como um elo que jamais será cortado. Um elo indestrutível entre seus pais. Uma ligação tão profunda e forte que, em tempo algum, deixará de povoar as lembranças e memórias de todos eles.
Ademais, elo se estende por sobre toda a família. Umbilicalmente liga casa paterna e casa materna, avós e avôs, tios e tias e toda a parentela. E todos, como família, se sabem unidos pela força do laço-elo que é essa criança.
Olhar uma criança é ver um elo. E vivê-lo intensa e harmoniosamente.
Olhar para uma criança é vislumbrar esperança. A esperança flui nos sonhos de todos nós que fruímos da presença desta criança. Alimenta-nos de desejos fraternos. Nutre-nos de anseios maternos. Eleva nossos corações aos picos altaneiros da gratuidade. Cobre nossa mente com o manto da sinceridade. Desfralda sobre nossa emoção as velas em sota-vento da confiança, da serenidade, da pureza, da entrega.
A esperança é a fé daquele que ainda não vê o porto, mas sabe que em algum lugar daquele vasto horizonte existe terra firme. Terra-mãe que acolhe com bendições seus rebentos. Rejubila em reencontrar aquelas pessoas que semeiam, às mãos cheias, a paz nos olhos lacrimejantes, o consolo no coração desesperado, a alegria na alma tristonha, a força aos alquebrados, alento aos desvalidos, a esperança a todos eles.
Olhar uma criança é vislumbrar esperança. E acalentá-la sempre de novo.
Olhar para uma criança é olhar para dádiva, elo e esperança. E isto está bem de acordo com o propósito da existência humana: ser a imagem e semelhança do seu Criador.
Rev. Dr. José Roberto Cristofani é Pastor da Igreja Presbiteriana Independente, Doutor em Bíblia e Educador. | |
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